João Pedro

João Pedro é um santanense da gema, nasceu no Largo São Cristovão. No Hospital Doutor Arsênio Moreira. É um menino, dez anos de idade fará por os dias que se sucedem. É filho, o terceiro, da minha irmã mais nova. João Pedro quis vir ao mundo numa data importante para nós brasileiros, alagoanos. Nasceu João Pedro na manhã de mais um aniversário da Proclamação da República do Brasil.

Santana do Ipanema rodou em baixo dos pés de João Pedro. O menino nunca gostou de estar dentro de casa, entre quatro paredes! Depois que aprendeu a andar, e descobriu a porta que dá pra rua: Ô menino andejo! Meu Deus! Convenhamos que um menino com dois nomes, na certa deve valer por dois! Sendo assim, o João aprendeu a escrever o evangelho no Grupo Escolar Padre Francisco Correia. E o Pedro, a pescar no riacho do Bode. A avó dizia: Esse menino, nos modos, se parece com o seu tio Francisco! Desde pequeno, aquele nunca gostou de estar dentro de casa. Por conta disso ficaria muitas vezes de castigo, levaria muitas sovas. Pra não sair deixava-o nu, mesmo assim ele procurava um calção no cesto de roupas, e escapulia pulando o muro do quintal.

Na foto de Recordação Escolar, aquela que tiramos tendo ao fundo a bandeira do Brasil, Francisco, de tantos banhos no rio Ipanema, está preto! Já João Pedro, está com o cabelo grande! Não gosta de cortá-lo. Se esforçando pra não rir, cara de menino levado. Esse menino ia pro cercado de Seu João Augustinho com um alçapão cheio de milho alpiste, pra pegar passarinhos. Levava bananas e maçãs pra quando apertasse a fome. E ali cuidava o dia inteiro de vigiar a lida dos passarinhos, e ninguém sabia o seu paradeiro. Nem ele se atinha que vivia a mais bela fase da vida, a infância. Por certo, uma árvore viria a embalar seus sonhos. Cajueiros cheios de maturis de botar nódoa à roupa. Umbuzeiros, de umbus verdes de encher a boca de travo e desbotar os dentes. Um açude pra mergulhar, sem ter com que se preocupar. Mal sabia que no passado seus tios teriam feito exatamente como ele fazia. Aos domingos ia pra quadra da AABB de Santana do Ipanema. O dia inteiro, participando do campeonato de futsal infantil. Organizado por eles mesmos, os meninos do Monumento. Teve uma vez que sem ter dinheiro pra pagar a taxa de inscrição no time, aprontou. No sábado à casa da avó, ajuntou num saco uma quantidade de panelas de alumínio, e levou pra feira da troca que fica próximo a Cadeia Pública. Vendeu quase todas as panelas da avó na feira do rato.

João Pedro foi passar uma temporada na casa do pai, em Maceió. Na capital fez novas amizades. Ganhou bicicleta nova. Aprendeu andar de skate. Passou a fazer parte de um time de futebol infantil, eles almejavam participar do campeonato do Sesi. A avó perguntou se estando em Maceió, se sentia saudade de Santana do Ipanema. Nada respondeu. No seu jeito calado, foi como se dissesse que sim, que sentia saudade de todos nós. Das brincadeiras naquela velha casa, nos quartos que um dia fora meu e de meus irmãos. Por vezes vi-o brincando, guerreando com travesseiros com seus irmãos, e foi como se visse a mim mesmo. E vi como eram felizes, ainda que arengassem, assim como um dia fomos nós. Nos estudos João Pedro está atrasado. Passava de ano numa escola. Acabava repetindo de ano noutra. Isso é o que dá ser filho de pais separados. Um tempo passa com a mãe, outro com o pai. E se a coisa fica preta dos dois lados. Se os mimos acabavam, e vinham as cobranças, ainda restava à casa da avó.

Casa de pai e mãe é bom, casa de avó ainda melhor. João Pedro um dia ganhou um cachorro, deu-lhe o nome de Billy. A avó ao ver o menino brincando com o cãozinho se lembraria de Fernando, quando pequeno também ganhou um cachorro, mas papai não aceitou que fosse criado dentro de casa. O menino chorou muito, já tinha se apegado ao animalzinho de estimação. Tão bela é a amizade de um menino e seu cão. João Pedro levou Billy pra chácara do seu padrasto que fica a beira da rodovia. O cão não tendo noção de perigo, tentou atravessar a pista. Acabou colhido por um veículo em alta velocidade, ficou entre a vida e a morte. Levado pra uma clínica veterinária sobreviveu, mas perdeu uma das patas dianteira.

No Natal a família sempre se reúne em torno de uma mesa. Nessas ocasiões tem João Pedro à oportunidade de estar junto aos outros primos, Tiago, Lucas, Mateus, Thomas. E assim a ceia santa termina virando a santa ceia. Na cozinha da nossa casa, tem na parede uma réplica da obra de Da Vinci, a Última Ceia. Na confraternização derradeira em que estivemos reunidos brincávamos com nossos sobrinhos, dizíamos quem era quem na gravura. João Pedro achou melhor ser Pedro do que João. Justificaria dizendo que àquele sem barba mais parecia mulher. Faria rir a todos ao constatar sério, que quem estava com a máquina fotográfica na Ceia Sagrada acabou não saindo na foto.

Fabio Campos

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